A
verdade é que eu deva ser um masoquista. Não chego a cortar meus pulsos, ou pôr
cordas em meu pescoço, ou pratique qualquer lesão em meu corpo. Não, não sou
assim. Me deleito com a dor no coração, a dor na alma. Sou um louco doente. E
não há dor mais prazerosa do que esta. Sim, não há, pois somente a dor oriunda
do coração é capaz de nos fazer sofrer.
Demorei
para me aceitar nessa condição. E se assim eu for, que mal eu exerço sobre os
demais? Que perigo oferto, senão aquele que a mim mesmo tomo? Creio que nenhum.
Mas
o problema de ser masoquista, não é o que possa fazer aos outros, até porque,
para ser considerado crimes, tais delitos devem ser praticados em outras
pessoas, que não a mim; e sim o que faço a mim. Sobretudo porque a causa dele é
oriunda de você.
Você,
logo você, dentre todas eu jamais pensei que fosse causar tanto sofrimento, que
fosse atenuar minha doença de fazer mal a mim mesmo. Você, que era singela,
pura e paciente. Você que tinha todos os artifícios que poderia usar sobre mim,
decidiu usar justamente aquele que me deixou mais vulnerável, sua
personalidade. Ou pelo menos o que pensei que fosse ela.
Seria
suportável perder você, se não estivesse acostumado a ouvir você me chamando de
guri e de baixinho, ainda que você esteja apenas centímetros a mais que eu.
Seria suportável te perder, não fosse as vezes em que sonhei com nossa vida juntos.
Não
irei me vingar, não há motivo para tal, se a vingança houvesse de vir à tona,
teria de vir de você não de mim, afinal a tua insegurança era por mim.
Muito
aprendi, pouco te ensinei, mas por intermédio do destino, ou por causa além de
minha compreensão, será outro que em teus braços irá aprender o que me
ensinastes e o que eu te ensinei.
Então sim sofro. Sofro por mim,
sofro por ti. Desejei a tua felicidade, mas jamais afirmei que tal felicidade
seria a minha.